
A indústria brasileira começou a mostrar sinais consistentes de desaceleração. Em abril, o número de trabalhadores no setor industrial caiu 0,4%, a primeira retração após 18 meses de crescimento. O dado foi divulgado nesta sexta-feira (6) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base em pesquisa realizada em 12 estados responsáveis por 94% do PIB industrial do país.
Segundo Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, essa redução é “bastante significativa” porque o emprego industrial costuma responder de forma lenta às mudanças no cenário econômico. “O setor vinha aumentando o emprego por 17 meses consecutivos. Em março, o crescimento parou, e agora em abril houve queda. Isso reflete a redução na demanda e na atividade industrial”, explicou.
Além da queda no emprego, outros indicadores reforçam esse momento de enfraquecimento. O uso do parque fabril — que representa o nível de ocupação das instalações industriais — recuou 0,6 ponto percentual, atingindo 77,9%. As horas efetivamente trabalhadas na produção também diminuíram 0,3%, enquanto o faturamento real da indústria de transformação caiu 0,8% entre março e abril. Essa foi a segunda queda seguida no faturamento do setor.
Por outro lado, a massa salarial real e o rendimento médio dos trabalhadores da indústria aumentaram de forma significativa em abril. No entanto, segundo a CNI, esse crescimento apenas recompõe parte das perdas acumuladas nos meses anteriores, não indicando uma tendência consistente de recuperação.
Juros altos dificultam a retomada da atividade econômica
Todos esses dados aparecem em um cenário de juros elevados. Em maio, o Banco Central elevou a taxa Selic para 14,75% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas. A estratégia do BC é clara: conter a inflação, mesmo que isso signifique desacelerar a economia.
Para o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sinais iniciais de desaceleração já foram identificados, mas ainda é necessário manter os juros em um nível “mais restritivo” por mais tempo. Segundo ele, essa postura é essencial para que a inflação convirja para a meta oficial de 3% ao ano.
Na ata da última reunião do Copom, o Banco Central apontou que o hiato do produto segue positivo — ou seja, a economia brasileira ainda opera acima do seu potencial, o que pode pressionar os preços. A autoridade monetária também alertou que o efeito da política de juros sobre o emprego e a atividade produtiva ainda deve se aprofundar nos próximos meses.
Perspectivas para o crescimento em 2025 são mais modestas
Com os juros altos e a indústria mostrando retração, as projeções para o crescimento da economia em 2025 foram revisadas para baixo. O mercado financeiro prevê uma expansão de 2,13%, abaixo dos 3,4% registrados em 2024. O Banco Central, por sua vez, trabalha com uma expectativa ainda mais conservadora: 1,9% de crescimento para este ano.
📌 Fonte:
Conteúdo adaptado a partir de dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e declarações do Banco Central. Informações originalmente publicadas por Alexandro Martello no portal G1, em 6 de junho de 2025.
Link de referência: https://g1.globo.com
Foto de Emre Ezer: https://www.pexels.com/pt-br/foto/leve-luz-light-homem-7739856/