O número de empresas brasileiras que recorreram à recuperação judicial disparou em 2024, registrando um aumento de 69% em relação ao ano anterior. Esse é o maior crescimento observado desde a criação da Lei de Recuperação e Falências, em 2005. O levantamento, feito pela Serasa Experian, mostra que o país enfrenta o pior cenário de endividamento empresarial das últimas duas décadas.
De acordo com os dados divulgados, além do salto nas concessões de recuperação judicial, os pedidos também tiveram forte avanço — uma alta de 62% no comparativo anual. O número indica que, cada vez mais, empresas de diferentes portes estão buscando esse recurso para tentar reorganizar suas dívidas e evitar a falência.
O levantamento aponta ainda que, após três anos consecutivos de queda, o total de falências decretadas voltou a subir em 2024, com alta de 7,3%, passando de 727 para 780 casos. Já os pedidos de falência apresentaram leve recuo de 3,5%, o que mostra uma tendência de tentativa de renegociação antes da dissolução definitiva das companhias.
Outro dado que chama atenção é o aumento expressivo da taxa de insucesso das empresas em recuperação. No segundo trimestre de 2025, cerca de 30% das companhias que haviam iniciado o processo acabaram indo à falência, o maior índice registrado desde que esse tipo de dado passou a ser monitorado.
Os especialistas atribuem esse cenário a uma combinação de fatores econômicos e estruturais. O ambiente de juros altos, o encarecimento do crédito e os efeitos persistentes da pandemia ainda pressionam o caixa das empresas. Além disso, o uso da recuperação judicial tem se expandido para além das grandes corporações — micro, pequenas e médias empresas, e até produtores rurais, passaram a recorrer ao instrumento com maior frequência.
O agronegócio, por exemplo, foi um dos setores que mais sentiram os efeitos dessa crise. Em 2024, o número de produtores rurais que pediram recuperação judicial mais do que dobrou em comparação com o ano anterior. A alta dos custos de produção, as oscilações de preços das commodities e as adversidades climáticas foram alguns dos fatores que levaram muitos empresários do campo a buscar proteção judicial para tentar reorganizar suas dívidas.
Para analistas econômicos, os dados reforçam que, embora a recuperação judicial tenha se tornado uma ferramenta importante para a sobrevivência de empresas em dificuldades, o aumento tão expressivo dos pedidos é um alerta sobre a fragilidade da economia real e a dificuldade de acesso ao crédito produtivo. A tendência, segundo eles, é que o número de processos continue elevado nos próximos meses, especialmente se não houver melhora nas condições financeiras do país.
Referência: https://www.conjur.com.br/2025-nov-05/recuperacoes-judiciais-crescem-69-e-atingem-maior-nivel-em-duas-decadas/
Foto de KATRIN BOLOVTSOVA: https://www.pexels.com/pt-br/foto/de-madeira-tribunal-corte-de-justica-quadra-6077326/
